RUMO AO RIO GRANDE DO SUL


Embarque no Porto do Rio de Janeiro - RJ, em 1878.

Essas famílias mantovanas tinham como destino, a IV Colônia Imperial de Imigração Italiana, hoje, cidade de Silveira Martins-RS. Para tanto, partiram do Porto do Rio de Janeiro-RJ com destino a Porto Alegre-RS, entrando pelo Porto de Rio Grande, navegando pela Lagoa dos Patos e desembarcando no porto da capital gaúcha.


Esta, foi a Porto Alegre que os imigrantes encontraram, no ano de 1878.

Naquela época, o porto da Capítal Gaúcha era composto de docas como mostra o desenho abaixo. Vê-se à esquerda, o Mercado Público, ainda, somente com um andar.


Vista da Praça Parobé

Parte da viagem até a IV Colônia era feita pelo rio Jacuí, até a cidade de Rio Pardo. Em épocas de cheia do rio Jacuí, ele ficava navegável até Cachoeira do Sul; a partir daí, enfrentando a inexistência de estradas e muitas dificuldades, utilizando-se de carretas puxadas por bois, esses imigrantes atingiam o seu destino: o Val de Buia, no pé da Serra de São Martinho!


Viagem fluvial, de Porto Alegre-RS até Cachoeira do Sul-RS.



Viagem do Rio de Janeiro à Província de São Pedro do Rio Grande do Sul


(Relato de Júlio Lorenzoni, em seu livro "Memórias de um imigrante Italiano").
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"... Vimos que o nosso vaporzinho se aproximava de uma grande nave, que estava ancorada fora da barra de Rio Grande, carregada também de imigrantes provenientes de outras regiões da Itália. A baldeação, com mar em borrasca, foi um trabalho infernal. Rapazes e meninos, no número dos quais eu também me achava, foram transferidos de um vapor a outro em grandes cestas, penduradas nos guindastes, como se fôssemos volumes de mercadorias.
Terminado enfim o carregamento, o vapor levantou a âncora e lentamente partiu em direção ao Rio Grande".


Desembarque no Porto de Rio Grande

"A entrada no porto era, naquela época, muito perigosa, devido aos bancos de areia, sendo necessário que um prático ficasse sondando continuamente a profundidade de suas águas.
Achamos o local bastante triste, arenoso e sem vida.
Desembarcamos no porto e, lá, ao lado de nossos pertences, sobre as duras pedras, passamos nossa primeira noite, ao relento, e, para alimentarmo-nos, recebemos uma escassa ração de carne, feijão com farinha de mandioca e peixe seco".


Do Porto de Rio Grande a Porto Alegre, pela Lagoa dos Patos!



(Observação do autor)
As famílias Lorenzoni e Mozzini (Mossini) vieram da Itália em datas e navios diferentes. Seu encontro ocorreu em Porto Alegre, sendo que ambas seguiram em direção à 4ª Colônia no mesmo grupo de imigrantes, conforme consta no livro "A Presença Italiana no Brasil", organizado por Luis A. de Boni.
O Pe. Luiz Sponchiado em seu trabalho anexado a esse livro (A anágrafe de Nova Palma e os inícios da Colônia de Silveira Martins, Página 432), relata a chegada ao Barracão de Val de Buia, de mais uma leva de imigrantes, no dia 14/09/1877, constando ambas as famílias Mossini e Lorenzoni, nessa relação.

Há uma divergência quanto à data de chegada à 4ª Colônia. Enquanto o Pe Luiz Sponchiado afirma que eles chegaram no dia 14/09/1877, Júlio Lorenzoni diz que isso ocorreu no dia 25/04/1878. Essa segunda data é mais coerente, uma vez que o Navio Isabela que trouxe as familias mantovanas (Maffini, Mozzini, Porporati, Arisi, Boldrini, Biacchi, Moreschi, Cerati e Anversa), saiu do Porto de Gênova no dia 31/12/1877, ou seja, bem depois da data relatada pelo Pe Luiz Sponchiado (ver comprovante de viagem, em "A Partida da Itália", neste site).

Chegada a Porto Alegre... encontro das famílias Mozzini e Lorenzoni




(Relato de Júlio Lorenzoni, em seu livro "Memórias de um imigrante Italiano").

"No dia seguinte encaminharam-nos a outros vapores e, passadas cerca de 40 horas navegando pela Lagoa dos Patos, chegamos finalmente a Porto Alegre, uma cidade pequena, situada à margem esquerda do rio Guaíba, cuja bacia recebe as águas dos afluentes Jacuí, Sinos e Caí".



"O velho casarão que nos recebeu, situado nos fundos da Praça da Harmonia, já estava alojando, infelizmente, outra leva de imigrantes, cerca de dois mil, a maior parte Vênetos e Lombardos e na maioria tristes e pensativos, meditando aqueles bons chefes de família sobre o incerto futuro que estava reservado a seu caros".



"Porto Alegre era então, uma cidadezinha de uns 50 ou 60 mil habitantes, com ruas estreitas, bondinhos puxados a burro, edifícios todos de estilo primitivo, pouquíssimo movimento, o comércio quase que na totalidade em poder de firmas alemãs e raras indústrias".





De Porto Alegre a Cachoeira do Sul




(Relato de Júlio Lorenzoni, em seu livro "Memórias de um imigrante Italiano").

De Porto Alegre à Ponte do Rio Jacuí, em Cachoeira do Sul

"Depois de uns 4 ou 5 dias, todas as famílias dos imigrantes foram tomando seu rumo. Parte seguiu para Caxias, outros para Conde d’Eu e Dona Isabel, colônias estas que já tinham dois anos de existência. Nós, centro e tantas famílias, já havíamos resolvido seguir para a nova colônia Silveira Marftins, tendo sabido que esta ficava a uns 40 km de Santa Maria da Boca do Monte, uma cidadezinha situada na campanha e habitada em grande parte por alemães, residentes ali desde o ano de 1852.

Dentro de poucos dias, portanto, embarcamos em alguns vaporzinhos, deixamos Porto Alegre e, navegando pelo rio Jacuí, depois de algumas horas, aportamos em Rio Pardo e depois em Cachoeira, pequenos lugarejos de campanha, situados à margem esquerda daquele rio e, no dia seguinte, chegando à ponte do Jacuí, poucos quilômetros após Cachoeira, ali desembarcamos.


A viagem pelo rio foi assaz agradável.. Panoramas belíssimos, vegetação exuberante, árvores frondosas e seculares, cobertas de barba-de-pau, onde esvoaçavam as mais variadas espécies de passarinhos e, de vez em quando, aparecia algum macaquinho ou outro animal silvestre. A cada parada do vaporzinho para se reabastecer de lenha, podíamos admirar as plantações de laranja, lima e limão carregadas de frutas; e esta visão era para nós, um espetáculo dos mais atraentes".

Acampando à margem esquerda do Rio Jacuí

"E onde imaginem que nos tenham desembarcado? Em terreno raso, na campanha aberta, como soldados em manobras. O tempo, embora estivéssemos no início do outono, mantinha-se ótimo; dias lindos, nem quentes, nem frios, sucediam-se e nem as noites incomodavam, por serem de temperarura amena, o que deixava todos alegres, confiando em próximas melhoras.

O estado sanitário daquelas pessoas todas, e eram mais de mil, continuava bom e não me lembro de ter visto um doente grave. Até as pessoas de 60 e 70 anos mantinham-se alegres, satisfeitas do novo mundo.

Depois de dois dias fomos avisados a preparar-nos para a viagem até a nova colônia. Consistia esta viagem, em atravessar uma distância de cerca de cem quilômetros, da ponte do Jacuí, onde nos encontrávamos, até as visinhanças de Santa Maria, uma imensidão de descampados, num terreno ondulado de colinas e planícies".



"Estávamos a 15 de abril de 1878. Nesta manhã, bem cedo, vimos chegar um número extraordinário de carroções de duas rodas, que estacionaram bem defronte ao nosso acampamento. Cada carroção era puxado por 4 ou 5 juntas de bois, e conduzido por um guia a cavalo, descalço, com as calças arregaçadas até os joelhos...

O carro, como já disse, era de duas rodas, feito todo de madeira maciça e duríssima, e, mesmo procurando, não se teria encontrado nem um prego. Com uma cobertura de duas águas, feita com macegas e ervas secas, fechado também dos lados pelas mesmas ervas, assemelhava-se a uma cabana ou casinhola. Tinha a parte de trás aberta e só protegida do sol e das interpéries por um couro seco de boi, que a resguardara como se fora uma cortina. Cada carro era destinado a uma família e sua respectiva bagagem, e o trabalho de carregar mais de cem carros se prolongou até o meio-dia".




De Cachoeira do Sul à Boca da Picada, 8 dias de viagem com muitas paradas...

"Depois, a um aviso do Administrador, quando tudo estava pronto, a fileira imensa de carros, que se estendia a uns 2 km, pôs-se lentamente em movimento. Nos carros instalaram-se os mais velhos, as mulheres e as crianças, preferindo os mais jovens caminhar a pé, evitando assim, as bruscas sacudidelas que o terrono acidentado e as poças d´água produziam".

"As carretas, cujos eixos jamais haviam recebido nem sombra de graxa, produziam, ao se movimentar, um rangido infernal, verdadeiros miados, que podiam ser ouvidos a quilômetros de distância.

Ao partirmos, nossas jovens camponesas, em longas fileiras, de braços dados, começaram a entoar cânticos do folclore italiano, doces e melodiosos, que ecoavam por aquele imenso descampado. Como de outras vezes, os filhos do País, os carreteiros ficavam estupefatos e procuravam aproximar- se o mais possível, a fim de gozar melhor a beleza daqueles cantos, daquelas harmoniosas vozes, que para eles eram inéditos e maravilhosos".




"Os rapazes e os homens, neste meio tempo, percorriam aquele local caçando perdizes, o que havia em grande quantidade, pois ninguém ainda as tinha molestado, caçando-as.

Após umas três horas de viagem, tendo ultrapassado a primeira e enorme várzea, que era de uns dez quilômetros mais ou menos, vimos ao longe um belo capão de árvores frondosas; todas as carretas pararam na sua visinhança desatrelando os animais para que pastassem e dessedentassem. Seriam cerca de 600 bois e cavalos, que ficaram vigiados por alguns homens, para evitar que se distanciassem demais". "Nesta nossa primeira etapa, logo ao chegar, todo o mundo ficou atarefado a procurar água e lenha, sendo em seguida, aceso um alegre fogo ao lado de cada carreta, com sua família. Enquanto isso, o Administrador já havia providenciado para que fossem carneadas algumas reses que nos acompanhavam. Tirados os couros, em pouco mais de meia hora, foram distribuídas a cada família lindas mantas de carne ainda fumegante, que em seguida eram assadas".



"Carne, sempre tínhamos em abundãncia. Além da carne, sempre nos foi fornecida a ração de outros comestíveis".

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"No dia seguinte, a caravana pôs-se novamente em movimento, atravessando a vasta planície, com as mesmas paradas às 11 horas e às 4 horas da tarde, até que depois de oito dias, a saber, no dia 23 de abril de 1878, que naquele ano coincidiu com o dia de Páscoa, chegamos a tão falada “boca da picada”, que não era senão a entrada do bosque, início do nosso destino!"

(Esta tela faz parte do site: www.mozzini.com.br)