O Val de Buia, localiza-se no pé da Serra de São Martinho, distante 30 km do Município de Santa Maria
e a aproximadamente 290 Km de Porto Alegre.
No início do ano de 1876, a Câmara de Vereadores da iminente Vila de Santa Maria da Boca do Monte, requer do império a legitimação de suas terras e a discriminação das terras públicas e devolutas de particulares. É contratado para a medição das terras o engenheiro Guilherme Greenhalgh que apresentou ao Governo Geral a possibilidade de uma colônia imigrantista, além das três que se iam definindo no nordeste do RS. Sugestão esta que foi aceita pela nova Cidade, criada em 6 de abril de 1876. Agrimensores a serviço do Império Para o início da colonização na Região, deveriam ser providenciados 800 lotes (o mínimo para uma colônia) no Arroio Grande. Na realidade, a imensidão de terras deste município não alcançava os 800 lotes, portanto, acabou extendendo-se dos limites Santamarienses e penetrando pelo novo Município de São Martinho. O fato da Colônia pertencer a dois municípios dificultava a administração imperial e o próprio desenvolvimento da Colônia. Para abrigar os imigrantes, foi construído um barracão em Val de Buia. Em 10 de janeiro de 1878 chega a primeira leva de colonos italianos à Colônia de Silveira Martins, antes ocupada por agricultores de origem russa-austríaca que fracassaram e a abandonaram. Após o primeiro, foram criados mais dois barracões para abrigar as quatro turmas de italianos que aqui chegaram até maio de 1878. O Contrato entre a Inspetoria de Terras e Colonização e a Empresa responsável pela vinda dos imigrantes, previa: viagens, transporte, alimentação, remédios, acomodações, ferramentas, bagagens e correspondências Pela inexistência de estradas, o caminho até o pé-da-serra era feito com a utilização de dezenas de carretas de bois. Nessas carretas eram colocadas, além das malas, caixas, sacos, sacolas e ferramentas, também as crianças e idosos. Os mais jovens acompanhavam as carretas a pé, auxiliando no que podiam, principalmente no desatolamento de carretas, que acontecia com muita freqüência. As carretas puchadas por bois, era o único meio de transporte possível naquela região. Esse caminho é caracterizado por uma grande planície, com muitas vázeas, portanto um terreno alagadiço e propício a atolamentos. Ao enfrentarem essas dificuldades, o desânimo e a decepção tomava conta de todos. Conta Júlio Lorenzoni, no seu livro, "Memórias de um imigrante italiano", que as mulheres, nesses atoleiros, com seus vestidos longos levantados até os joelhos e com as barras lameadas, choravam enquanto os homens blasfemavam contra Deus por os terem colocado naquela viagem sem volta. Serra de São Martinho - Foto tirada da Linha 2, alto da serra, Lote da Família Anversa Foto atual do Val de Buia O Pe.Luiz Sponchiado, em suas pesquisas, relata o encontro da primeira leva de italianos, que ao se aproximarem do pé-da-serra de São Martinho, depararam-se com um grupo de imigrantes russo-austríacos. Eles estavam em retirada, devido a uma peste que estava assolando aquele local. Os italianos não tinham para onde ir, senão ao seu destino que era o Val de Buia. Lá, havia sido construído um barracão para abrigar as famílias, até que os lotes de terra fossem distribuídos. Era nesse barracão que estavam abrigados os imigrantes russo-austríacos que acabaram de partir. Foi enfrentando todas essas dificuldades que esses imigrantes atingiram o seu destino: o Val de Buia, no pé da Serra de São Martinho, no dia 25/04/1878! Abaixo, a narrativa de Júlio Lorenzoni em seu livro "Memórias de um imigrante Italiano". Da Boca da Picada ao 1º Barracão (Um breve arrependimento...) "Entramos no dia seguinte no bosque, numa estrada de inferno: buracos e barro que os pobres animais afundavam até quase à barriga. Os gritos dos carreteiros para estimulá-los e fazê-los atravessar aquelas poças d´água e lama e arrastar as carretas com nossas bagagens, causava-nos uma tristeza enorme. Seguindo-as, vinha a fileira de homens, mulheres, velhos e crianças, procurando escolher o local exato para firmar os pés sem afundar naquele terreno barrento e lodoso. Os homens marchavam com os filhinhos no colo, calças arregaçadas até acima dos joelhos e as mulheres também não podiam evitar de mostrar as pernas, sujas e enlameadas, procurando salvar da sujeira as saias que vestiam. Uns caminhavam de cabeça baixa, taciturnos e tristes, outros gritavam, blasfemavam e maldiziam a hora de terem vindo ao Brasil, enquanto algumas mulheres, silenciosamente, seguiam chorando. Boca da Picada Quando Deus quis, isto é, pelas três horas da tarde, desem- bocamos daquele mato numa linda planície, propriedade do fazendeiro Penna. Paramos aí, novamente, para tomar algum alimento, pois estávamos sem comer desde manhã cedo, para repousar um pouco, enxugar nossas roupas e mesmo porque os animais estavam axaustos, escorrendo suor e em- barrados até os chifres. Casa do Sr. Penna No dia seguinte, às 9 horas mais ou menos, estávamos novamente a caminho, em dire- ção ao barracão, que distava da casa do Sr. Penna, apenas 6 km... No entanto, às 2 horas da tarde aproximadamente, chegávamos afinal ao barracão, ponto final do nosso destino!" - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Monumento construído em homenagem ao Imigrante Italiano, quando do centenário da imigração. Esse monumento foi construído no local aonde existia o Barracão de Val de Buia Placa do Monumento em homenagem ao Imigrante Italiano |